17 setembro 2010

Artigo: O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel



O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel é tido por muitos como uma de suas maiores obras-primas, e uma das obras surrealistas máximas de toda a história do cinema. Como tal, causa uma grande expectativa para quem o vê pela primeira vez, e com certeza deixa uma impressão marcante em quem o assiste.

O início do filme parece-se muito com uma obra de Robert Altman. Uma profusão de personagens no que parece ser um simples jantar de gala oferecido por um rico aristocrata aos seus convidados. No entanto, à medida que as cenas se sucedem, percebe-se algo estranho. Nenhum dos convidados vai para casa, passando a noite na sala de forma nada convencional para membros da alta sociedade. Mais a seguir todos percebem que, de forma inexplicável, ninguém parece ser capaz de sair da casa. Trancados naquele espaço ínfimo, todos têm que lidar com seus medos e interagir com os outros num ambiente de implacável tensão e isolamento.

A carga crítica contra os costumes da burguesia contida neste filme é impressionante. Quando as máscaras e as convenções começam a cair por terra, é interessante observar a degradação daqueles que se colocam acima de toda a sociedade e a sua reação diante das dificuldades encontradas. Mesmo a audiência se acostuma, depois de algum tempo de filme, ao fato de que eles não sairão da casa, e esquece o porquê daquilo estar acontecendo. A pergunta que inicialmente é feita (por que diabos isso está acontecendo?) estabelece um mistério inicial que depois dá lugar à angústia que perdura até o final. E, em se tratando de uma obra abertamente surrealista, não há garantia alguma de que este mistério terá uma "solução", digamos, transparente.

Alfinetadas sutis e quase imperceptíveis sobre adultério, incesto e homossexualidade são insinuadas no decorrer do filme. Além disso, várias questões são levantadas. Sobre quem deveria ou não estar preso na casa e sobre aqueles que sentiram uma vontade incontrolável de sair antes do fim do jantar, por exemplo. Por quê? O que estaria por trás de tudo? Independente de como cada um interpretará o desfecho, O Anjo Exterminador é um filme original e marcante, mas decididamente não indicado à platéia ávida por" filmes pipoca".

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